Ajudando a construir o Windows Vista e Longhorn

Por: André Teixeira

No início de março deste ano, deixei de atender o suporte de produtos como Windows XP e 2003 para me dedicar somente ao suporte a produtos beta, mais especificamente Windows FLP (Windows Fundamentals for Legacy PCs), Windows Vista e Windows Server Longhorn. Resumindo, o que aconteceu foi que por oito meses fiquei ‘emprestado’ a um grupo dentro da Microsoft - o grupo de Suporte Beta - para prestar suporte em sistemas operacionais beta para clientes que testam estas versões, na área exclusiva de Setup – mais especificamente nas áreas de deployment e ativação.

Sem dúvida, foi uma grande experiência para mim que, em minha opinião, trouxe também certos benefícios para a nossa região da América Latina - vou explicar abaixo o porquê.

Em primeiro lugar, estar no grupo de Suporte Beta me trouxe maior entendimento das etapas de como um produto é construído internamente e tirou algumas premissas que tinha quanto ao desenvolvimento de software na Microsoft, mesmo trabalhando aqui dentro.

A primeira premissa que tinha era que o grupo de produtos era responsável por definir tudo sobre o produto, sozinho. Na minha visão estas decisões se faziam por pesquisas de marketing, com usuários e idéias internas. Eu também achava que o suporte a produtos beta era exclusivo para cobrir bugs nos produtos e era acessível a um pequeno número de usuários.

Pois bem, no decorrer do programa, a primeira coisa que percebi foi que os nossos produtos são construídos sim com bases em idéias internas e pesquisas com usuários, mas os usuários que utilizam o produto na ponta durante a etapa beta têm um incrível poder de impor mudanças e novos recursos no decorrer das fases de testes.

É claro, nem todas as mudanças que usuários requisitavam no recorrer do beta foram possíveis de ser realizadas. Primeiramente, quanto mais cedo estas requisições de usuários eram feitas, mais fácil era possível serem implementadas. O impacto destas mudanças era avaliado junto com os clientes para avaliar os benefícios que a mudança traria ao cliente que as requisitou e as possíveis conseqüências que as mudanças trariam a outros clientes e ao produto como um todo. Caso o custo/benefício das mudanças fosse compensadora para todos os envolvidos, elas eram aprovadas e incorporadas no produto. Com o passar do tempo, as mudanças de design no produto ficam mais difíceis e ficamos mais dedicados a resolver problemas e bugs, uma vez que mudanças de design podem apresentar impactos em outros componentes.

Um exemplo de mudança da qual participei ativamente foi relativa ao Longhorn Server: Nas versões beta do Longhorn Server, quando o produto é instalado, o setup não pergunta o nome de máquina, usuário ou zona de horário de verão– na prática, o sistema operacional é instalado com um nome aleatório e aparecia uma janela para o usuário após a instalação ter sido completada com opções, entre elas, mudar a senha do administrador e o nome da máquina.

Após diversas discussões com os desenvolvedores no grupo de produto, consegui influenciar na decisão de ter uma opção na instalação perguntando o nome de computador durante o setup, oferecendo maior flexibilidade na instalação. Naturalmente, a influência só é possível ao demonstrar o impacto negativo para os clientes através de um bom “business case”.

Especificamente relacionado à América Latina, há um problema classico relacionado ao horário de verão. Através de um bug que eu reportei, o grupo de produto modificou o Windows Vista para que saísse com o horário de verão atualizado para o Brasil conforme o ano 2006, significando que no início do horário de verão em 2006 e no seu término em 2007 o Windows Vista já foi lançado com as datas atualizadas graças a esta correção. As soluções para a mudança de horário de verão para outros anos continuam em estudo.

Também identifiquei problemas na documentação do Windows AIK (Automated Installation Kit), que existiam somente nas versões internacionais, como português e espanhol, além de diversas outras línguas. Correções para esses problemas foram implementadas na versão final do produto.

Em geral, uma das áreas que mais sofreram melhorias comparado a outras versões do Windows foi o Setup do Windows Vista - esta parte foi praticamente reconstruída do zero. As melhorias foram muitas com o grande objetivo de facilitar a vida dos administradores de rede: o deployment de Windows Vista é muito mais flexível que os sistemas operacionais anteriores; por exemplo, acabamos finalmente com a famosa fase de modo texto na instalação que vinha desde o Windows NT 3.1. também facilitamos a ‘clonagem’ de máquinas, onde uma imagem de uma máquina é agora independente de hardware. Acabamos com o RIS, com Recovery Console, e criamos ferramentas de recuperação que podem ser executadas a qualquer momento dando boot diretamente via CD. A arquitetura de diversos componentes foi reescrita e a performance otimizada. Enfim, as novidades incorporadas somente na área de setup foram muitas e estarei de agora em diante reportando um pouco dessas novidades aqui no blog, tanto no que se refere a Setup ou outras áreas quanto também a novidades do Windows Longhorn Server.

Finalizando, para mim, nascido em uma pequena cidade do interior do Mato Grosso, participar da construção do Windows Vista foi uma experiência sem precedente. Espero poder continuar contribuindo com o produto nos próximos 10 anos incorporando o feedback dos clientes através do suportena fase “mainstream”, e ajundando a migrar para futuras versões do Windows na fase “extended”.